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Antonio Guterrez, secretário geral da ONU, usou a expressão acima para classificar a situação do mundo atual em que mais de 1 (um) bilhão de crianças e jovens estão fora das salas de aula. É uma catástrofe que se desenrola não somente em Santa Maria, não só no Rio Grande do Sul ou no Brasil, mas em todos os continentes, atingindo toda a humanidade, numa situação nunca antes vivenciada. É muito difícil, mesmo para docentes universitários, terem uma visão ampla do fenômeno mundial. É mais fácil ater-se à situação míope e distorcida da política local do que tentar entender o grande prejuízo em valores humanitários da perda de um ano letivo.
O mundo já enfrentou grandes pandemias, devastadoras em vidas e valores, mas nunca, até então, uma pandemia foi enfrentada com esse grau de isolamento social. Esta é uma experiência única na história da humanidade. Muita coisa nova iremos aprender dessa estratégia de enfrentamento, toda ela voltada para o despreparo dos governos em enfrentar o caos da insuficiência dos leitos de UTIs do que na visão médica de enfrentar o problema da doença, tratá-lo com os recursos disponíveis, sem estabelecer o pânico e perder o controle.
Sairemos dessa pandemia com um mundo mais organizado em seus sistemas de saúde. A escassez de leitos de UTI era uma situação mundial. Aqui em Santa Maria, as UTIs disponíveis viviam sempre lotadas, motivando ações na Justiça para obrigar os hospitais a internarem pacientes graves.
Não foram poucas as vezes que os médicos tiveram de fazer a "escolha de Sofia", liberando doentes menos graves para darem lugar aos mais urgentes. Essa era uma situação universal. Mesmo nos países mais desenvolvidos econômica e socialmente, a situação catastrófica foi vivenciada. Agora teremos mais leitos de UTI para enfrentar as situações graves do cotidiano da medicina intensivista. "Há males que vêm para o bem" diz o ditado popular e, passada essa epidemia, teremos mais leitos à disposição do SUS. Até o nosso Hospital Regional foi posto em funcionamento! Problema que parecia insolúvel!
A retomada da vida em sociedade, livre e democrática, com todos os seus sistemas em funcionamento, deverá ser uma decisão governamental urgente. Nada é mais desumano do que conviver com a miséria, com o desemprego, com a fome e o suicídio pela falta de perspectiva de vida.
A morte pela Covid-19 é só mais uma causa de morte e não é a mais fatalista. Durante o ano de 2020, já morreram no mundo todo 10.208.303 pessoas por doenças cardíacas; por doenças transmissíveis 7.545.424; 4.771.023 por câncer; 2.904.034 por doenças causadas pelo fumo; e pelo Covid-19, até agora: 820.246. A histeria coletiva está sendo mantida por um fenômeno midiático até agora não bem explicado. Parece até ser um plano diabólico para desestruturar o mundo. Os ativistas do caos estão delirantes. Responsabilizam os governos de acordo com suas ojerizas políticas. A Covid-19 segue o seu caminho sem vestir nenhuma camiseta... Em São Paulo, uma testagem em alunos de uma determinada escola mostrou que 40% deles já haviam tido contato com o vírus (notícia da imprensa), sem morbidade aparente.
Em Santa Maria, onde vivo há 89 anos e onde exerço a medicina há 64 anos, a estatística não deve ser diferente. Quando dispusermos de testes para um inquérito válido, essa situação deverá se repetir. Tenho lutado, dia a dia, para transmitir um clima de mais otimismo, mesmo que para alguns pareça indiferença desumana.